Os sabichões de Cristo

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A Bíblia fala várias vezes sobre justiça. Mas a proposta deste artigo não é para refletirmos sobre as múltiplas situações onde o termo justiça pode ser empregado. Quero usar este espaço para falar de certos comportamentos no meio cristão praticados em nome da fé. Julgamentos infundados, precipitados e sem legitimidade. O que seria um julgamento sem legitimidade, sem validade? Seria um julgamento feito por alguém que não é apto para tal. Alguns julgamentos nós podemos e devemos fazer. É bíblico. Mas outros julgamentos não podemos fazer, pois cabem somente a Deus.

Por exemplo, podemos julgar se uma profecia é de Deus ou não? Podemos. Como? Consultando a Palavra. Se o que foi profetizado estiver em linha com a Palavra o próprio Espírito Santo testifica a esse respeito. Se não tiver concordância bíblica, não foi Deus a falar e sim a carne, a vontade humana. 

“Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas, que entre vós profetizam; fazem-vos desvanecer; falam da visão do seu coração, não da boca do SENHOR.” (Jeremias 23:16)

Agora, há outro tipo de julgamento que precisamos entender: não cabe a nós. Olha o que o apóstolo Paulo disse aos romanos:

"Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam tais coisas.Tu, ó homem, que condenas os que praticam tais coisas e fazes as mesmas, pensas que te livrarás do juízo de Deus?" (Romanos 2:1-3)

Paulo disse que não tem desculpas para uma atitude dessas, ou seja, não há em que se pautar para tomar uma postura como a de julgar uma pessoa, tendo tantos defeitos e erros quanto ela. O Senhor Jesus falou a esse respeito.

“Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão.” (Lucas 6:37)

Precisamos analisar de forma correta esse versículo para não cairmos no equívoco de achar que devemos compactuar com coisas erradas. Aplaudir pecados ou dar sinal verde para posturas ilícitas dizendo que a Bíblia manda não julgar. Precisamos entender que tipo de julgamento que Jesus nos proíbe fazer.

“Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.” (Mateus 7:1-5)

Nesta passagem o Senhor Jesus explica que julgar alguém por seu pecado tendo também pecado é coisa de hipócrita. E o que mais vemos no meio cristão é o desrespeito a esta ordem de Jesus. Vemos pessoas cheias de pecado, vivendo de aparência e falando mal dos outros, em vez de orar por si e por eles.

A Bíblia manda exortar, orientar na Palavra. Se eu vejo um irmão tendo um tipo de comportamento que fere o coração de Deus, primeiro eu oro a Deus pedindo sabedoria, e que se Deus quiser me usar para falar com ele que me use e me dê a oportunidade, o momento certo e as palavras certas.  Se Deus não me autorizar a isso, no mínimo, o meu dever é orar pelo irmão, e não julgá-lo, porque quem convence do pecado, da justiça e do juízo é o Espírito de Deus (João 16:8), não é meu papel, nem do pastor, nem de qualquer outra pessoa.

Se eu vejo esse irmão cometendo um erro  e faço de conta que não estou vendo estarei coadunando com o pecado dele. Mas o fato de eu discordar com a postura do irmão não me dá o direito de falar que ele é um filho do diabo, ou que ele está se desviando, ou que ele não ama a Deus.

Só Deus sonda e conhece as mentes e os corações. Tem muito crente achando que é Deus. Jesus nos deu poder e autoridade para pisarmos na cabeça de serpentes, expulsarmos demônios e curarmos enfermos. Não para julgar pessoas indiscriminadamente.

O que me preocupa é que muitos crentes acham que alcançaram um certo nível espiritual e: ou se vêem superiores em relação a outros irmãos; ou acham que não precisam aprender.

No primeiro caso, o de se acharem num nível tão acima que se colocam como juízes, aptos para condenar ou absolver. “Olha, como sou santo, puro. E aquela irmã está ali fazendo coisa errada, daqui a pouco está desviada, vai para o mundo de novo”.

Rodinhas e grupinhos para falar dos irmãos. Isto é coisa de igreja lavada, sem manchas e sem mácula? Esse tipo de comportamento desrespeitoso a Deus em primeiro lugar está longe de ser atitude de novas criaturas. A igreja de Jesus não foi criada por Ele para isso. Parece um tribunal às avessas. O Juiz é que tem que julgar, mas os réus é que batem o martelo.

Sobre isso eu vou usar como ilustração uma figura pública e conhecida no meio evangélico, a cantora Mara Maravilha. Não conheço a Mara, não tenho nenhum CD dela, não acompanho site, fã-clube, não fico atrás de notícias sobre o que ela anda fazendo. Mas uma conhecida minha fez um comentário esta semana sobre a Mara, dizendo: “a Mara já tá noiva de outro homem, nem bem se separou”.

Tive duas reações: primeiro, a supresa. Eu não esperava que a Mara estivesse divorciada. Não me assustei com o fato dela estar noiva, pois é natural que as pessoas queiram refazer suas vidas. Os hipócritas não entendem isso, até precisar passar pela mesma situação.

A segunda reação foi a de discordar do comentário feito pela conhecida. Porque o tom de deboche com “já”está noiva? Porque o “já”? Quem sabe da vida da Mara, da Maria, da Joana, do João é Deus. Crente, vá ler a Bíblia! E praticar principalmente!

Não estou defendendo a Mara, pois eu não sei dos detalhes pessoais da vida dela, nem me interessam, a não ser que eu fosse sua amiga pessoal. Não estou defendendo ela. E nem condenando. E nem ficando em cima do muro. Quem julga é Deus. Ela errou em se separar do marido? Quem sou eu para falar que sim ou que não? A Bíblia aceita o divórcio em determinada situação, o adultério. Pergunto à comunidade de justiceiros da fé: vocês moram com a Mara, sabem da vida dela para saber verdadeiramente o que houve? Se ela errou ao se divorciar, ela vai colher os frutos da desobediência. Isso é com ela e Deus. E se foi feito com a autorização de Deus, nada consta contra ela. 

"Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus,que retribuirá a cada um segundo o seu procedimento:a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade;mas ira e indignação aos facciosos, que desobedecem à verdade e obedecem à injustiça." (Romanos 2:4-8)

Seja qual for a situação, ore por ela. Ore por um irmão que você sabe ou ACHA que está em pecado. Ore como se estivesse orando por você, por um pecado que você tem cometido ou como se fosse você que estivesse praticando tal erro. Tenha compaixão.

"O amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade". (1 Co 13:6).

Enfim, eu fui buscar notícas sobre a Mara e li que ela se casou com um dentista. Aí os questionamentos dos irmãos foram em torno da rapidez da Mara. Casou em poucos meses e logo depois de se divorciar. Seguinte: ela não tem o direito de refazer sua vida, já que seu casamento foi esboroado? Ou ela tem que chorar o resto da vida por causa de um fracasso? Vamos agora nos ocupar de acusá-la ou de fazer chacota com o nome dela? A igreja está enferma e em vez de cuidar do próprio machucado fica cutucando a ferida dos outros, em vez de tratar.

Li também que ela está se preparando para graver um CD com músicas gospel e outras seculares. Aí pronto. Mais um prato cheio para os justiceiros. “Olha a Mara! Gravando música do mundo!”. Eu li isso nos comentários da notícia. Lamentável. Se ela estiver fazendo algo que Deus não aprova, vamos orar por ela?

Agora, um parênteses: música do mundo?

O que é a tal da música do mundo? Se não é música gospel, corinho, louvor, é música do capeta? Abra a cabeça quem tem a mente de Cristo!

A Bíblia tem significados diferentes para mundo. Veja: o mundo jaz no maligno. Mas Jesus veio para salvar o mundo. E disse também que nós não somos desse mundo. Mas a mesma Bíblia diz que Jesus nos enviou a esta mundo (João 17:18).

Analise essas duas passagens a seguir:

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16)

“Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele." (1 João 2:15)

Curioso, né? Deus amou o mundo tanto que veio aqui em carne, na manifestação de Filho. Ao mesmo tempo, a Palavra diz que é para nós não amarmos o mundo. Precisamos discernir, conferir coisas espirituais com coisas espirituais, como disse o apóstolo Paulo.

Mundo pode significar o mundo físico, a Terra. Ou o espaço espiritual e seus desdobramentos: a sociedade, os sistemas que a compõe.

Deus amou tanto o mundo (as pessoas, a Terra, que Ele criou) que mandou Seu Filho para nos salvar. Mas Deus também diz para nós não amarmos o mundo, ou seja, os valores distorcidos que impregnam as sociedades, as pessoas. Não temos que amar o mundo, mas temos que cuidar bem do mundo? Como funciona isso?

Não temos que amar os valores distorcidos do mundo, colocar Deus em segundo plano. E temos que cuidar da nossa cidade, da nossa casa, do nosso espaço. Deus criou a Terra para nós enquanto estivermos aqui vivermos em perfeita vitória.

Então quando eu coloco uma música para ouvir falando, por exemplo, das belezas da cidade de Maceió (que eu amo, por sinal) isso é música do mundo (do capeta?). Tem alguma influência de Satanás uma música que fale sobre as belezas de um lugar maravilhoso criado por Deus? Crente sim, neurótico não!

Por isso eu digo: qual o problema da Mara gravar uma música, sei lá, do Roupa Nova? Desde que a música não fira a Palavra, não vejo problema. Qual o problema de se ouvir uma música romântica com o seu esposo ou namorado? Qual o problema de estar arrumando a casa ouvindo uma música alegre, desde que a mesma não tenha nada que fira os conceitos bíblicos? É tão bom pegar uma estrada louvando a Deus! E também é bom pegar uma estrada ouvindo uma música “secular” alegre. Eu mesma quando me converti e entendi o significado de amar a Deus sobre todas as coisas e querer na minha vida somente o que tinha a aprovação de Deus, eu joguei fora todos os CD’s caríssimos que eu tinha de heavy metal. Porque as letras das músicas glorificavam a Satanás. Mas porque eu vou jogar fora um CD que não tenha nada disso só porque agora eu sou crente e crente não ouve música do mundo?

Não é essa purificação que Deus quer. Ele quer pureza de coração. Não quer sabichões, donos da verdade. Quer sábios e submisso à Sua Palavra.

"São os teus olhos a lâmpada do teu corpo; se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; mas, se forem maus, o teu corpo ficará em trevas." (Lucas 11:34)

Fechando o parênteses e para encerrar o artigo, menciono agora um outro caso de crentes “de nível”. É o de crentes que se acham mais espirituais, mais firmes, mais bem informados na fé. Eu acho isso bem perigoso. Quando ouvem uma pregação sobre um assunto “x” falam assim: “já ouvi isso 300 vezes”. A Palavra de Deus não é um mantra, uma coisa repetitiva. A Palavra de Deus é viva e eficaz. E se lermos uma passagem bíblica hoje Deus falará ao nosso coração de uma forma. E quando a lermos daqui a três meses Deus poderá nos falar de outra forma, usando a mesma palavra.Então não me venha dizer “ah, eu já li isso, não é nenhuma novidade”. Acontece também quando chegam ao ministério. Acham que não precisam ouvir. Que eu saiba pastor também é ovelha. Ovelha de Jesus. Vaso de barro. Massa na mão do Oleiro. Precisa ouvir sim.

Precisa crescer na graça e no conhecimento sim. E saber que se a sua suficiência vem do Senhor e o conhecimento e o poder de Deus são inesgotáveis, é que a necessidade de se renovar e aprender mais de Deus também é inesgotável. Não é como a vida acadêmica, onde começamos com a graduação, fazemos a pós ou o MBA, depois o mestrado, o doutorado e o pós-doutorado. A vida da fé vai além. A carreira que nos está proposta tem apenas uma patente, a patente celestial: somos ministros de uma Nova Aliança, sacerdotes reais, submetidos ao único Juiz, que também é o nosso Advogado: o Senhor Jesus Cristo. Ele é que sabe que pensamentos tem a nosso respeito, pensamentos de paz e não de guerra.

“Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao SENHOR e aparta-te do mal.” (Provérbios 3:7)

Que esta mensagem tenha chegado ao seu coração como uma semente boa em terra fértil e que dê muitos frutos para a glória de Deus.

Graça e Paz!